Yangtze e cetáceos em vias de extinção

Apresento-vos Yangtze. Não o imenso rio que atravessa parte da China e desagua no Mar da China, não o maior rio da Ásia e o terceiro maior do mundo, mas antes o meu parceiro de viagem para os próximos meses. Yangtze, o meu pequeno monstro marinho.


Ainda assim, o seu nome não deixa de ser inspirado no Yangtze real, mais do que isso, inspirado num dos seus mais famosos habitantes. Famoso, ainda que pelas razões erradas. Vivia no Yangtze, sendo endémico da zona central e jusante deste rio altamente poluído e sofrendo o severo impacto negativo de inúmeras atividades antropogénicas, o Baiji (Lipotes vexillifer). Este pequeno golfinho de rio considerado  como criticamente ameaçado pela IUCN desde 2008 (1), foi posteriomente dado como extinto desde 2016 depois de uma expedição não ter detetado nenhum animal no seu habitat já altamente reduzido (2). O Baiji foi efetivamente o primeiro cetáceo extinto como resultado direto da ação humana na atualidade, não existindo já nenhum indivíduo no seu meio natural. Foi o primeiro, mas não o único.

Foi muito recentemente considerado como estando em vias de extinção um outro pequeno cetáceo, a Vaquita (Phocoena sinus), contando com uma população residual de cerca de 30 indivíduos habitando a zona costeira do Golfo do México (3). As perturbações no seu habitat, a poluição, as capturas acessórias, são alguns dos perigos que enfrentam os últimos exemplares desta espécie. Uma espécie marinha perdida, um mamíferos marinho, um predador de topo. No topo, logo abaixo dos humanos que tudo dominam, tudo destroem.

E embora tentemos ensinar às novas gerações como se devem comportar perante o meio natural que é nosso assim como dos outros animais, como devem agir e que medidas devem tomar, receio que quando chegar à sua vez, pouco restará para salvar. Particularmente no mar, onde copiosamente devoramos populações inteiras de espécies selvagens, pouco restará do mais pequeno ao maior na cadeia alimentar.

Porque também os maiores estão (continuam a estar) ameaçados. Uma das grandes baleias, uma das mais próximas baleias na história das interações humanas com estes animais, a baleia-franca do Atlântico norte (Eubalaena glacialis), também correm o risco de extinção (4). Outrora abundantes, estas baleias de hábitos migratórios muito costeiros, sofreram severa extirpação na zona este do Atlântico (junto às costas da Europa), tendo desaparecido como resultado da baleação histórica contínua nesta região desde o século XVII. As sobreviventes, nas costas este do Canadá e dos EUA, viajando pelas águas do Atlântico oeste, correm agora sérios riscos. São resistentes, mas são apenas cerca de 450 baleias. São sobreviventes, mas são muito poucas, e, por certo, por pouco tempo.

 Por aqui, continuaremos a trabalhar para conhecer melhor como os humanos se relacionavam (e se relacionam) com animais não-humanos. Por aqui, continuaremos a viajar com o Yangtze na mão, símbolo dos gigantes monstruosos de outrora, símbolo dos gigantes de hoje. Eu gostaria de acreditar que tal como os monstros marinhos, que, nas mais variadas formas e conceções, permanecem vivos nos nossos oceanos e nas nossas histórias, também os pequenos e grandes cetáceos permanecessem.


(1) http://www.iucnredlist.org/details/12119/0
(2) http://us.whales.org/case-study/baiji-first-dolphin-to-be-declared-extinct-in-modern-times
(3) http://www.iucnredlist.org/details/17028/0 
(4) https://www.theguardian.com/environment/2017/dec/10/north-atlantic-right-whales-extinct 

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